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...Memórias de um Sonhador...

* As memórias são como livros escondidos no pó... As lembranças são os sorrisos que queremos rever, devagar... Recordem, e Sonhem - porque "sempre que o Homem sonha, o Mundo pula e avança..." *

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terça-feira, novembro 01, 2005

A long way to happiness...


Aqui me sentei, há bem menos que um par de horas, a rabiscar em papel alheio junto à mesa abandonada do bar da praia. E, debaixo deste Sol que teima espreitar por entre as nuvens, relembro aquilo que fui, medito naquilo que sou e sonho com o que anseio ser. E, sem dar por mim, começo a escrever...

Tenho seis anos e entro para a escola. Encontro meninos e meninas iguais a mim. Até meninos “ricos” havia naquela pequena sala. Algumas das melhores recordações que guardo são das histórias da professora Luísa, ao pé da lareira, e dos desenhos que lá fazia. E assim aprendia muitas das coisas que sei hoje. E, ali, a minha existência em mim era aquela eterna inocência das histórias, e FUI aquela imaginação que ficava carimbada no papel, lá no quentinho daquele fogo, ao pé da lareira. Mas cresci, e as histórias passaram a ser outras. Deixou de haver lareira, e as histórias passaram a escrever-se com números, ou mesmo em Inglês ou Francês. Anos passaram, os meninos como eu mudaram de atitude e fizeram das suas... e passaram. A professora Luísa “dividiu-se” em dez, mas essa dezena de pessoas continuou o seu legado. E eu aprendi mais algumas das coisas que sei hoje. E FUI as correrias para a fila do almoço, os “Good Moorning” e os “Merci Beaucoup” , e FUI toda a magia possível e imaginária daqueles anos... Mas o tempo não pára, e eu cresci novamente. E, num piscar de olhos, havia caído desamparada num mundo de “gente grande”. Agora, definitivamente, estava sozinha, entregue a mim, causa e consequência dos meus actos. Deparei-me com um mundo de decisões, de responsabilidades, de tarefas ; com um mundo de pessoas desconhecidas, meninos ricos e meninos pobres, uma roda-viva de emoções e sensações. E eu estava um pouco perdida. No entanto, acabei por encontrar o meu nome escrito num papel, colado na janela e com um A desenhado no topo. Havia encontrado o lugar onde pertencia. E durante três anos, segui o caminho desse mesmo A, por vezes sozinha e por vezes tendo ao lado outros como eu que, estando perdidos, encontraram o caminho no mesmo A do papel da janela. E agora dou comigo a chegar ao fim desse caminho, ao fim desses três anos, sozinha no mundo de todos. E percebo que aqueles três anos foram o caminho do sonho, que termina em frente a uma outra janela, agora maior, onde todos esperamos encontrar o nosso nome escrito. Mas, e alguns dos que me acompanharam ao longo deste ano como o Bolzano, o Pessoa, o Le Châtelier, o Freud ou mesmo o Lamarck , sabem tão bem como eu que o último pedaço do meu caminho, que é diferente do que eu pensava, ainda não está construído. E, tal como o peixe, eu estou a morrer na praia, e SOU toda a incerteza do que há a salvar e a condenar, do que há a perder e a ganhar. SOU a necessidade de agarrar o sonho que teima estar sempre um passo à minha frente, SOU o querer para chegar sem nunca alcançar. Mas SOU EU, e não posso ser mais ninguém... SOU fruto do que me ensinaram muitas professoras Luísas que passaram na minha vida. SOU toda esta aprendizagem que me fez crescer e chegar até aqui, e tenho de pular de alegria por tudo isto ou, pelo menos, ficar feliz por estar viva.
E assim, ao escrever há bem mais que um par de horas, penso que talvez preferisse não crescer para não ter de enfrentar tantas lutas, tantas provas, tantas desilusões... e ter de levantar a cabeça. Talvez trocasse toda esta azáfama, que me deixa sem tempo nem energia para mais nada, por toda aquela inocência das histórias. Mas também penso se trocaria essa paz pela ambição de ver o meu nome escrito naquela janela, por poder fazer aquilo que mais amo... E aí paro, penso novamente, e digo: NÃO!! E agradeço... pois talvez a minha vida não tivesse sentido se toda ela fossem histórias e desenhos contados e criados ao pé da lareira...



( Algo que escrevi há algum tempo, sem saber bem como nem porquê…
Porque hoje tenho saudades, porque tenho medo, porque cresci, e porque tenho um longo caminho a percorrer… )

3 Comments:

Blogger Nuno Costa said...

Mais um post cheio de intensidade e profundidade! A tua maneira de escrever, o sentido e a emoção que empregas em cada frase, em cada palavra é qualquer coisa de fenomenal! E sobre o post em concreto, tens de perceber que a vida é feita de momentos, fases e ciclos. Desde a escola primária até à faculdade, cresceste, e irás crescer sempre ao longo da tua vida...em cada fase ou ciclo que passaste, foste enfrentando desafios diferentes, conhecendo pessoas diferentes, foste construindo a tua identidade e personalidade e crescendo como pessoa. Obviamente que algo de novo e que constitua um desafio, provoca sempre alguma ansiedade e até receio ou mesmo medo, e é o que acontece sempre que acontecem transições ao longo da nossa vida. Foi bom teres andado "sem responsabilidades grandes" quando andavas na primária, e tinhas na Professora Luísa alguém que te ajudava e ensinava, sem estares sozinha...essa fase passou, e foi boa...mas só na altura...tudo tem o seu tempo, e quando corres atrás dos teus sonhos irás sempre encontrar dificuldades, e acredita que mesmo que consigas atingir o que sonhas, haverá sempre algo para alcançar!

Para finalizar deixo-te outra reflexão: já reparaste que é o caminho para conseguirmos algo, que acaba por ser o que mais agradavelmente recordamos, do que propriamente aquilo que realmente conseguimos!?

O caminho é longo, aproveita cada momento e vive-o de forma intensa no momento certo...amanha se os recordares com saudade, é bom sinal! ;)

Beiju enorme *dos nossos*

terça-feira, 01 novembro, 2005  
Blogger * Ju * said...

Manuela:

até me fizeste chorar com tudo aquilo que aqui escreveste... Agradeço toda e cada uma das coisas que aqui falaste e, sem saber bem o que dizer, deixo apenas um beiju enorme, e a promessa de que nunca deixarei a tua amiga ;) Enquanto ela me quiser aturar, eu estarei sempre pronta a ajudar :)
Ela é uma menina muito especial para todos, e para mim também (como deves reparar no post seguinte!!!

Mais uma vez obrigada por tudo, e volta sempre. Adorei ter-te por cá***

terça-feira, 01 novembro, 2005  
Blogger Adriana said...

Lembro.me do dia em que a professora de português nos leu este texto, com um sorriso enorme nos lábios, e lembro.me da tua cara embaraçada!

Recordo com saudades estes dias em que passavamos juntos, em que pertenciamos todos aquele A... Em que ao longo de 3 anos, transformamos aquele simples papel com o nosso nome, numa verdadeira turma!

Beijito **

quinta-feira, 24 novembro, 2005  

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