O Posto 3...

Tenho vindo a adiar este post... Já passou uma semana, mas este relato merecia um bocadinho de atenção e um restnho de tempo... especial...

Há uns tempos, por meio da organização de um Festival, recebi um convite: ser voluntária no Apoio aos Peregrinos de Fátima... Claro que, de imediato, o bichinho começou a saltar cá dentro, e inscrevi-me logo...

Algum tempo foi passando e, entre uma reunião e uma visita ao local, o dia chegou. E lá fui eu, para o posto 3 (Moreira da Maia), cheia de entusiasmo, medo, vontade, insegurança, curiosidade e borboletas na barriga... Haviam-me dito que iríamos receber um griupo de 40 pessoas da parte da tarde mas, eis senão quando, à chegada, me dizem que afinal eram mais... alguns... Iríamos receber um grupo de 100 pessoas naquele dia. 100 pessoas para cuidar, ouvir, alimentar, fazê-las descansar, refrescar-se... 100 novas histórias, umas que fui ouvindo, outras que me foram contando...

Há coisas que não vou conseguir descrever pois só estando se percebe como as coisas nos atingem. Enfermeiros e alunos, fisioterapeutas e alunos, podologistas e alunos, e os Escuteiros que nos cederam o espaço e a gentileza que lhes é natural... Foram momentos inesquecíveis...

Desde a Sr. R. que na flôr dos seus 80 anos fazia a caminhada no pelotão, bem lá à frente, a bater palmas e a motivar tudo e todos: "já faltou mais, vamos lá que a Nossa Senhora nos há-de ajudar"...

Desde as lágrimas da Sr. F., cujo filho, que lhe tinha dito que ela era o seu exemplo de força e coragem, havia sido nesse dia submetido a uma cirurgia e ainda não tinha acordado da anestesia...

Passando pela Sr. M. que fazia todo o percurso sem calçado, só em meias, pois esse era o seu sacrifício em agradecimento pela recuperação da neta...

Até à vergonha da S. que, mesmo com as dores de uma entorse no pé, não queria "dar trabalho"...

E lembrando ainda o V. que, com apenas mais 5 anos que eu, fazia todo o percurso alimentando-se apenas a pão e água...

Vendo de perto tudo isto, consegui pensar como é possível que, às vezes, fique tão chateada por ter de dar uma corridinha para não perder o autocarro...

É estar com todas estas pessoas, ouvi-las a contar a sua história, os seus medos, a sua fé a pessoas que nunca viram e, provavelmente nunca mais verão... Ver a confiança que sentem em nós, como nos ficam agradecidas, como a sua cara muda logo para um sorriso depois de 10 minutos connosco... Ver o alívio, a tranquilidade depois de uma pequena sesta ou uma sandes ou uma fruta... E ver que tudo aquilo veio da boa-vontade de pessoas, instituições, empresas,... Tudo nos foi oferecido e tudo nós oferecemos recebendo em troca o sorriso, mesmo que cansado, daquelas 100 pessoas...

As condições não eram ideias, mas a vontade falou mais alto e tudo correu sem problemas. Mas, no fim do dia, era eu quem precisava de uma massagem e cuidados, pois o meu corpo já acusava uma semana de trabalho e um dia cansativo a trabalhar quase de joelhos...

Mas tudo aquilo valia a pena... Valia a pena, no fim do dia, ficar com as lágrimas nos olhos por nos dizerem "Obrigada Menina Enfermeira... Não sabem como nos ajudam... em Fátima vou rezar por si..."

Era tudo o que eu precisava ouvir...

Obrigada a todos por esta oportunidade...

Obrigada Peregrinos pelas lições de vida e de coragem...

Nunca vos vou esquecer...

*E pensar que é esta a essencia do que quero e vou fazer toda a vida dá-me ainda mais vontade e orgulho na profissão que acabei por escolher... Dá-me cada vez mais a certeza que é este o caminho certo para mim...*