Porque às vezes a Esperança reaparece...

Às vezes sinto que posso tocar o mundo…

Não me queixo do caminho que escolhi seguir e dos sítios aonde ele me levou – o caminho foi sempre o certo. Não quereria que tivesse sido diferente.
O tempo, infelizmente, não nos ajuda a mantermo-nos no caminho certo. O caminho continua a seguir sempre em frente, mas agora encontra-se coberto de pedras e pedregulhos que se foram acumulando ao longo da vida. Até há três anos atrás, teria sido fácil ignorá-los, mas agora é impossível. Não tenho forças nem saúde e passo os meus dias como um velho balão: indiferente, esponjoso, e cada vez mais mole…
Acordo e olho para o relógio de olhos semicerrados. Apercebo-me de que está na hora. Levanto-me e atravesso o quarto arrastando os pés, parando junto à secretária para pegar no bloco de apontamentos que já li centenas de vezes. Enfio-o debaixo do braço e continuo a avançar para o sítio aonde tenho de ir. Uma pessoa habitua-se a tudo desde que lhe dêem tempo para isso.
Sento-me na cadeira que já se moldou ao meu corpo. Há sempre um momento antes de começar a ler em que penso no que pode acontecer. E é a possibilidade que me dá alento e, embora me possam chamar sonhadora ou louca, acredito que tudo é possível.
Sei que as probabilidades e a ciência estão contra mim, mas a ciência não é a única resposta. Isso eu sei: aprendi com a vida, apesar de ainda curta. E é isso que me leva a acreditar que os milagres, por mais inacreditáveis ou inexplicáveis, são verdadeiros e podem ocorrer independentemente da ordem natural das coisas.
Por isso, mais uma vez, tal como acontece todos os dias, começo a ler o bloco de apontamentos em voz alta para me poder ouvir, e na esperança que o milagre que passou a dominar a minha existência ocorra novamente…

E talvez, apenas talvez, aconteça mesmo…