http://www.makepovertyhistory.org ...Memórias de um Sonhador...: março 2006
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...Memórias de um Sonhador...

* As memórias são como livros escondidos no pó... As lembranças são os sorrisos que queremos rever, devagar... Recordem, e Sonhem - porque "sempre que o Homem sonha, o Mundo pula e avança..." *

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Localização: Maia, Porto, Portugal

sexta-feira, março 24, 2006

I Noite... em TUNA...


Tuna Feminina da Escola Superior de Enfermagem S. João.
Unidas por uma força comum de vingar nos meandros tunais, algumas Tunantes iluminadas pelo espírito académico formaram em Janeiro de 2000 a primeira Tuna Feminina de Enfermagem do país!
Desde a sua formação, esta Tuna parte por todo o país, contagiando gentes e lugares com a alegria da música que leva debaixo das capas negras, mostrando a todos a beleza e a força do que é ser estudante.
Actualmente, entre Tunantes e Caloiras, a
Tuna conta com aproximadamente 30 elementos, que durante todo o ano se esforçam arduamente para levar este barco a bom porto. A música, o companheirismo, a animação e o espírito da praxe académica acompanham-nos em cada passo.

A 23 de Março tive o prazer (ou como
Alguém disse um dia – “o gosto, porque prazer é outra coisa”!!) de subir ao palco rodeada desta bela Tuna… Estar em Tuna é algo difícil de explicar, e poder estar no palco com pessoas que, apesar do pouco tempo, já nos dizem muito é “outro mundo”… e assim, ao olhar para o lado, é muito fácil abrir um sorriso e mostrar toda a alegria que existe em cada uma de nós quando estamos assim, juntas, a fazer aquilo que gostamos.

Melhor Tuna, Melhor Instrumental e Melhor Original – os prémios da noite de ontem, em Barcelos. Uma noite cheia de diversão e algum nervosismo à mistura. Ontem foi uma noite assim, e a primeira para mim. E por isso, nunca a esquecerei…





















Obrigada a todas por tudo… por me deixarem fazer parte deste “
outro mundo” que vocês tão bem já conhecem e que eu espero poder conhecer também… Esta noite foi fenomenal, e espero que seja a primeira de muitas… sempre convosco…


“Se de noite à luz da lua
Ouvires na rua um doce cantar
É a nossa TUNA que passa
Com sua graça
E um brilho no olhar... “


Beiju grande para as Magníficas Tunantes e para as Lindas Caloiras e Aprendizes da TUNA FEMININA DE ENFERMAGEM DE S. JOÃO*

sexta-feira, março 10, 2006

Uma manhã...



... inesquecível …

Pelas 7.15h cheguei à escola, estive à espera que chegasses, e desejei-TE um bom dia. Não há melhor maneira de começar o dia! Depois, despedi-me de TI com um beijo e voltei para os meus apontamentos de fisiologia. Antes fui buscar a bata, lavadinha e passada a ferro, e sentei-me, de folhas na mão, a enganar a ansiedade. Estava em pulgas, e nem o teste de fisiologia me fazia esquecer aquilo que me esperava naquela manhã. Ia visitar a Unidade de Pediatria do Hospital de S. João

Chegaram as 9h, desci até à sala, encontrei a professora S. e lá partimos em direcção ao hospital. A cada degrau que ia descendo sentia o coração a bater mais rápido. Olhava para todo o lado à espera de encontrar algo que anunciasse o “mundo” que aqueles pequeninos têm no hospital. Continuando a caminhada, dei por mim em frente a uma porta grande de vidro e madeira, com um placa azul em cima, que dizia em letras brancas: Pediatria. O meu coração disparou… A porta abriu, entramos, e aguardamos um pouco. Ali tinha apenas a biblioteca da Pediatria e o gabinete de apoio à mesma. Uns desenhos marcados no vidro davam um ar desse mundo pequenino, e era muito bom estar ali. Aberta a outra porta, fui caminhando pelo corredor. Quartos de ambos os lados, muita azáfama nos corredores, e uns bebés lindos que víamos através dos vidros, e que batiam nas janelas e sorriam para os pais e enfermeiros, sem se deixarem afectar pelo motivo pelo qual estavam ali. Desenhos em todas as janelas, bonecos em todas as camas – um mundo de cor, simplicidade e inocência como é o destes pequeninos… Continuei, pois a mim aguardava-me a Pediatria A, dos 2 aos 18 anos. Esperei mais um pouco, e então entrei na Unidade. Vi alguns pequeninos a andarem pelo corredor, de pijama vestido e ainda ensonados. Não sei explicar o que senti… Senti um arrepio enorme, senti que o mundo parou por segundos para eu poder admirar todo aquele espaço, e senti uma súbita vontade de chorar, que foi contida a muito muito custo… mas ainda assim os olhos ficaram a brilhar… Não sei explicar o que senti, mas senti-me tão bem, como se aquele espaço me pertencesse, me fosse familiar, fosse também “meu”… Esperei mais uma vez antes da observação para que a Enfermeira me distribuísse pelo quarto onde iria ficar. Entretanto, olhei pelo vidro da janela e lá estavas tu… O tão famoso G. Estavas de costas, não me viste, mas eu fiquei a admirar o teu corpo pequenino para os teus 8 anos, a tua fragilidade mas, acima de tudo, a tua alegria. Sim, era isso que ressaltava: o teu sorriso aberto e contagiante… De repente voltaste-te, e viste-me… e sorriste-me… Mais uma vez não sei explicar o que senti. Sorri para ti e brincamos bastante. Estavas a chamar-me para ir ter contigo, mas tiveste de esperar um pouco. Tu e eu, e acredito que a mim me tenha custado mais aquele tempo de espera… apenas um vidro nos separava, mas não deixaste de olhar para mim, e continuamos a brincar fazendo com que aquele tempo passasse rápido. Por fim entrei. Fui logo ter contigo, e apaixonei-me pela magia que irradias. És muito especial, o “meninos dos olhos” de tanta e tanta gente naquele serviço… e agora dos meus olhos também… Todos paravam para te dar os bons dias, e tu sorrias com uma boa disposição incrível. Pediste-me uma caneta para fazer um desenho. Fizeste, e vou guardá-lo comigo todos os dias. Depois pediste mais canetas, e pediste a minha, que viste no bolso da bata. Dei-ta e não mais a largaste. Tinha pinguins desenhados, o que ainda deu direito a umas brincadeiras!! Por momentos tive de te deixar, e fui falar com o teu amiguinho de quarto, o N. Também ele era especial, um encanto. Estava a tomar o pequeno-almoço, e depois falamos muito. Aprendi a fazer arroz de cabidela, e muitas outras coisas que me ensinaste. Foi tão bom… Do outro lado, tinha a M. Estava lá desde os 9 meses, tendo agora 2 anos e 11 meses, em estado vegetativo… Eras tão linda minha pequenina… A tua serenidade, a roupa e fita cor-de-rosa que a tua mamã te vestira nesse dia (como já há dois anos faz) faziam de ti uma princesinha linda… Mesmo não olhando para mim, cativaste-me muito. Tu e a tua mamã, a quem desejo a maior força do Mundo…
O tempo foi passando, rápido demais… Aquele mundo era mágico demais, e o tempo voava. Tinha de vir embora. Despedi-me da M., do N. e o G. foi o último. O G. vive no hospital desde que nasceu, e é “filho” de todos quantos passam por ali. Também a mim me cativaste. Não largaste a minha caneta, e eu não tive coragem de ta pedir de volta… Guarda-a, guarda-a bem… pode ser que um dia te lembres de mim quando olhares para ela…

Obrigada a todos… Não imaginam o que ganhei naquela manhã… Aqueles três pequeninos, tão diferentes e tão iguais, são uma amostra daquilo que é lutar por uma felicidade limitada no tempo e no espaço… são uma lição de vida…


* Enquanto escrevo estas linhas todas, as lágrimas teimam em cair e não parar… Sim, lágrimas… Lágrimas de alegria por ter podido viver tudo o que vivi naquela manhã, lágrimas de tristeza por ter de vir embora, lágrimas de medo por não poder, um dia mais tarde, ficar perto de vocês e dar-vos tudo aquilo que tiver… medo de não ser uma boa enfermeira e não vos poder fazer sorrir por mais um dia… Mas sim, tenho a certeza que é ali que quero passar os meus dias. Os meus problemas acabaram quando ali entrei, pois só existiam vocês naquele meu mundo… É ali que quero estar, sei-o com todas as forças, e tenho disso uma certeza como raras tenho na vida…

Obrigada pela melhor manhã da minha vida…

Até sempre, espero eu… *

Music Video:ANGEL (by Sarah McLachlan)

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